quarta-feira, 27 de junho de 2018

Israel e a Igreja – Dois Grupos Diferentes

Conforme prosseguirmos, ficará cada vez mais evidente que a razão da maior parte das dificuldades que as pessoas têm neste assunto provém de não se distinguir entre Israel e a Igreja. Este é um problema muito antigo entre os Cristãos e pode ser rastreado até os séculos iniciais da história da Igreja quando mestres judaizantes ensinaram que Israel se fundiu na Igreja no Pentecostes e de que agora fazem parte do mesmo grupo. No seu ensino errado, a Igreja é dita ser o novo Israel que irá herdar a Terra. Isso é conhecido hoje de maneira geral como “Teologia do Pacto” ou “Teologia Reformada”, embora isso tenha sua origem antes da Reforma ocorrida e nos anos 1500. Este sistema de ensino não vê a verdadeira natureza, chamado, caráter e esperança da Igreja como sendo um grupo especial de crentes que pertence ao céu. A Escritura ensina que a Igreja reinará com Cristo sobre a terra, como algo distinto de Israel e das nações gentias que terão uma porção de bênção na Terra.
Como resultado desse ensino errado, muitos entenderam mal o propósito de Deus de ter, não um, mas dois grandes grupos de pessoas redimidas para compartilhar a glória de Cristo no dia de Seu reinado público (o Milênio). Haverá um grupo celestial de santos, composto pela “noiva” de Cristo (a Igreja) e aqueles conhecidos como “os amigos do Noivo” (os santos do Velho Testamento), e também haverá um grupo terrenal de pessoas composto do remanescente das 12 tribos de “Israel” e das “nações” gentias.
No presente, Deus está chamando a Igreja (a noiva e esposa de Cristo) pelo evangelho da Sua graça. Aqueles que descansam em fé na obra consumada de Cristo na cruz são selados com o Espírito Santo e fazem parte da Igreja. Isso é algo totalmente novo nos caminhos de Deus. Não existia nos tempos do Velho Testamento, ou mesmo quando Cristo veio pregar o evangelho do reino. Quando o Senhor esteve na Terra, disse: “Eu edificarei Minha Igreja” (Mateus 16:18). Isso mostra claramente que ainda era algo futuro. Ela não começou até o Pentecostes (At 2:1-4, 47, 5:11, 11:5 “ao princípio”). A palavra Igreja (“Ekklesia” no grego) significa “chamada para fora” e apropriadamente descreve o que Deus está presentemente fazendo ao chamar crentes para fora de entre os judeus e os gentios. Pela virtude do Espírito de Deus descendo ao mundo no dia de Pentecostes e fazendo habitação naquele grupo de crentes, Ele os uniu a Cristo nos céus, que é a Cabeça da Igreja (Ef 5:23). Isto é chamado o batismo do Espírito Santo (At 1:5; 1 Co 12:13)
Em Efésios 3:6, Paulo explica esse novo e exclusivo chamado de Deus e mostra que é algo completamente diferente do que foi falado pelos profetas do Velho Testamento sobre Israel e os gentios. Ele declara três coisas que caracterizam esse chamado atual de Deus pelo evangelho:
·              Em primeiro lugar, ele diz: “Para que os que são das nações sejam co-herdeiros” (Ef 3:6 – JND). Nota: ele não disse que os gentios (as nações) seriam co-herdeiros, mas que “aqueles que são dos gentios” seriam co-herdeiros. Isso se refere a uma seleção de certas pessoas eleitas de entre as nações que foram escolhidas para fazer parte dessa companhia celestial – a Igreja (Ef 1:4-6). As nações das quais esses são chamados permanecem inalteradas e continuam na Terra hoje como tais, e o farão também durante o Milênio (Ap 21:24).
Esse chamado especial de Deus pelo evangelho não é aproximação em massa das nações gentias a Jeová, como anunciado no Velho Testamento, pela qual elas teriam um lugar no reino do Messias sob Israel (Zc 2:11, 8:22-23; Is 11:10, 14:1, 56:3-7, 60:1-5; Sl 22:27, 47:9, 72:10-11). Aquilo que o Velho Testamento fala é uma conversão exterior das nações gentias que ocorrerá no futuro quando Cristo estabelecer Seu reino Milenar. Elas declararão lealdade ao Deus de Israel pelo medo de julgamento; não haverá necessariamente uma obra de fé no coração delas (Sl 18:44-47, 66:1-3, 68:28-31; Is 60:14), embora muitos sejam verdadeiros (Ap 7:9-10). O presente chamado especial de Deus para formar a Igreja não deve ser confundido com o chamado aos gentios que acontecerá no futuro.
Certas declarações no livro de Atos confirmam esse chamado exclusivo de Deus que está ocorrendo hoje. Lucas, o escritor do livro, diz que, quando Paulo e Barnabé subiram a Jerusalém, pararam em certos lugares para contar aos santos as boas novas da “conversão daqueles das nações” (At 15:3 – JND, Ef. 1:13). Note novamente: não é a conversão das nações, mas uma conversão “daqueles das” nações. Ele menciona novamente no versículo 14 do mesmo capítulo, afirmando que no evangelho, Deus estava (e está hoje) visitando os gentios para “tomar dentre eles um povo para o Seu Nome” (At 15:14 – AIBB). E é mencionado novamente na conversão de Saulo de Tarso. O Senhor disse a ele: “Tirando-te de entre o povo (Israel) e das nações (gentios) (At 26:17 – JND). Isso mostra que, quando Paulo foi salvo, ele foi tirado para fora de sua posição anterior como um israelita e colocado para dentro de uma inteiramente nova criação de Deus como membro do corpo de Cristo (Gl 3:28; Cl 3:11). Ele foi então enviado para pregar o evangelho àqueles dentre as nações, para que, por crerem em Cristo, eles também pudessem ser trazidos para essa nova coisa celestial.
Como mencionado, judeus e gentios, como entidades distintas, ainda permanecem na Terra hoje enquanto o chamado do evangelho é divulgado, mas agora, como resultado desse chamado atual de Deus, existe uma terceira entidade – “a Igreja de Deus” (1 Co 10:32). Portanto, nesta presente dispensação da graça, Deus está chamando judeus e gentios crentes para fora de suas posições anteriores e levando-os para dentro de algo novo – a Igreja. Como afirmado anteriormente, o significado da palavra Igreja é “os chamados para fora”. Expressa muito apropriadamente esse chamado especial do evangelho hoje.
Os teólogos da “reforma” ou da “aliança” usarão erroneamente certos versículos no livro de Atos para provar que esses dois chamados são um e o mesmo. Mas um exame mais atento a essas referências mostra que esses chamados não são um cumprimento daquelas passagens do Velho Testamento, mas são simplesmente citadas para mostrar que Deus sempre teve em mente Seu propósito de abençoar os gentios.
·              Em segundo lugar, Efésios 3:6 diz que os crentes dentre os gentios hoje fazem parte “de um mesmo corpo” de crentes compostos pelos que antes eram judeus e os que antes eram gentios. O Mistério de Cristo e a Igreja revela que judeus e gentios que creram no evangelho são tornados em um organismo vivo (um mesmo corpo) e compartilham uma igualdade de condição e bênção nessa nova criação de Deus (Ef 2:14-16). Esse “um só corpo em Cristo” (Rm 12:5) é uma coisa totalmente nova da criação de Deus e não é encontrada no Velho Testamento. As Escrituras do Velho Testamento não falam de judeus e gentios crentes compartilhando bênção e privilégio comuns como ajuntados na união mais próxima possível. Além disso, a Escritura anuncia que Cristo reinará sobre Israel e sobre as nações gentias (Sl 93:1; Is 32:1), mas nunca diz que Ele reinará sobre a Igreja, que é Seu corpo.
·              Terceiro, Paulo diz que esta seleta companhia de judeus e gentios são “co-participantes da promessa em Cristo Jesus”. Essa promessa não tem conexão com as promessas feitas aos patriarcas nos tempos do Velho Testamento. As promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó foram feitas durante suas vidas, mas essa promessa da “vida eterna” foi feita “antes dos tempos dos séculos” (Tt 1:2). “Vida eterna” é claramente uma bênção do Novo Testamento que envolve um relacionamento consciente com o Pai e o Filho (Jo 17:3) e tendo a habitação do Espírito Santo (Jo 4:14). Os santos do Velho Testamento não sabiam do relacionamento do Pai e do Filho na divindade, e apenas esperavam viver para sempre na Terra sob um Messias que viria para reinar (Sl 8:1-9, etc.), nem tinham a habitação do Espírito. A vida eterna foi vista pela primeira vez quando Cristo veio ao mundo e a manifestou; antes disso, “estava com o Pai” no céu (1 Jo 1:2).
Portanto, vemos dessas três coisas que o presente chamado de Deus não é um cumprimento espiritual das profecias do Velho Testamento (como os teólogos da Aliança nos dirão), mas algo completamente diferente. O presente chamado celestial de forma alguma interfere no plano futuro de Deus de abençoar Israel e os gentios na Terra sob o reinado de Cristo. A conversão dos gentios ocorrerá num dia vindouro, mas uma conversão daqueles que são tomados de entre os gentios está acontecendo hoje pelo chamado do evangelho. Ao ler as Escrituras, é importante não confundir esses distintos chamados de Deus. O “obreiro” fiel “que maneja bem [que divide corretamente – KJV] a palavra da verdade” e fará essa distinção no ensino bíblico (2 Tim. 2:15).

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