Conforme prosseguirmos, ficará cada vez mais evidente que a razão da
maior parte das dificuldades que as pessoas têm neste assunto provém de não se distinguir
entre Israel e a Igreja. Este é um problema muito antigo entre os Cristãos e
pode ser rastreado até os séculos iniciais da história da Igreja quando mestres
judaizantes ensinaram que Israel se fundiu na Igreja no Pentecostes e de que
agora fazem parte do mesmo grupo. No seu ensino errado, a Igreja é dita ser o
novo Israel que irá herdar a Terra. Isso é conhecido hoje de maneira geral como
“Teologia do Pacto” ou “Teologia Reformada”, embora isso tenha sua origem antes
da Reforma ocorrida e nos anos 1500. Este sistema de ensino não vê a verdadeira
natureza, chamado, caráter e esperança da Igreja como sendo um grupo especial
de crentes que pertence ao céu. A Escritura ensina que a Igreja reinará com
Cristo sobre a terra, como algo
distinto de Israel e das nações gentias que terão uma porção de bênção na Terra.
Como resultado desse ensino errado, muitos entenderam mal o propósito
de Deus de ter, não um, mas dois grandes grupos de pessoas redimidas para
compartilhar a glória de Cristo no dia de Seu reinado público (o Milênio).
Haverá um grupo celestial de santos, composto pela “noiva” de Cristo (a Igreja) e aqueles conhecidos como “os amigos do Noivo” (os santos do Velho
Testamento), e também haverá um grupo terrenal de pessoas composto do
remanescente das 12 tribos de “Israel”
e das “nações” gentias.
No presente, Deus está chamando a Igreja (a noiva e esposa de Cristo)
pelo evangelho da Sua graça. Aqueles que descansam em fé na obra consumada de
Cristo na cruz são selados com o Espírito Santo e fazem parte da Igreja. Isso é
algo totalmente novo nos caminhos de Deus. Não existia nos tempos do Velho
Testamento, ou mesmo quando Cristo veio pregar o evangelho do reino. Quando o
Senhor esteve na Terra, disse: “Eu edificarei Minha Igreja” (Mateus
16:18). Isso mostra claramente que ainda era algo futuro. Ela não começou até o
Pentecostes (At 2:1-4, 47, 5:11, 11:5 “ao
princípio”). A palavra Igreja (“Ekklesia”
no grego) significa “chamada para fora”
e apropriadamente descreve o que Deus está presentemente fazendo ao chamar
crentes para fora de entre os judeus e
os gentios. Pela virtude do Espírito de Deus descendo ao mundo no dia de
Pentecostes e fazendo habitação naquele grupo de crentes, Ele os uniu a Cristo
nos céus, que é a Cabeça da Igreja (Ef 5:23). Isto é chamado o batismo do
Espírito Santo (At 1:5; 1 Co 12:13)
Em Efésios 3:6, Paulo explica esse novo e exclusivo chamado de Deus e
mostra que é algo completamente diferente do que foi falado pelos profetas do Velho
Testamento sobre Israel e os gentios. Ele declara três coisas que caracterizam esse chamado atual de Deus pelo
evangelho:
·
Em primeiro
lugar, ele diz: “Para que os que são das
nações sejam co-herdeiros” (Ef 3:6 – JND). Nota: ele não disse que os
gentios (as nações) seriam co-herdeiros, mas que “aqueles que são dos gentios” seriam co-herdeiros. Isso se
refere a uma seleção de certas pessoas eleitas de entre as nações que foram
escolhidas para fazer parte dessa companhia celestial – a Igreja (Ef 1:4-6). As
nações das quais esses são chamados permanecem inalteradas e continuam na Terra
hoje como tais, e o farão também durante o Milênio (Ap 21:24).
Esse chamado especial de Deus pelo evangelho não é aproximação em
massa das nações gentias a Jeová, como anunciado no Velho Testamento, pela qual
elas teriam um lugar no reino do Messias sob Israel (Zc 2:11, 8:22-23; Is 11:10,
14:1, 56:3-7, 60:1-5; Sl 22:27, 47:9, 72:10-11). Aquilo que o Velho Testamento
fala é uma conversão exterior das nações gentias que ocorrerá no futuro quando
Cristo estabelecer Seu reino Milenar. Elas declararão lealdade ao Deus de
Israel pelo medo de julgamento; não haverá necessariamente uma obra de fé no
coração delas (Sl 18:44-47, 66:1-3, 68:28-31; Is 60:14), embora muitos sejam verdadeiros
(Ap 7:9-10). O presente chamado especial de Deus para formar a Igreja não deve
ser confundido com o chamado aos gentios que acontecerá no futuro.
Certas declarações no livro de Atos confirmam esse chamado exclusivo
de Deus que está ocorrendo hoje. Lucas, o escritor do livro, diz que, quando
Paulo e Barnabé subiram a Jerusalém, pararam em certos lugares para contar aos
santos as boas novas da “conversão daqueles
das nações” (At 15:3 – JND, Ef. 1:13). Note novamente: não é a conversão das nações, mas uma conversão “daqueles das” nações. Ele menciona
novamente no versículo 14 do mesmo capítulo, afirmando que no evangelho, Deus
estava (e está hoje) visitando os gentios para “tomar dentre eles um povo
para o Seu Nome” (At 15:14 – AIBB). E é mencionado novamente na conversão
de Saulo de Tarso. O Senhor disse a ele: “Tirando-te
de entre o povo (Israel) e das
nações (gentios)” (At 26:17 –
JND). Isso mostra que, quando Paulo foi salvo, ele foi tirado para fora de sua posição anterior como um israelita e colocado para dentro de uma inteiramente
nova criação de Deus como membro do corpo de Cristo (Gl 3:28; Cl 3:11). Ele foi
então enviado para pregar o evangelho àqueles dentre as nações, para que, por
crerem em Cristo, eles também pudessem ser trazidos para essa nova coisa
celestial.
Como mencionado, judeus e gentios, como entidades distintas, ainda
permanecem na Terra hoje enquanto o chamado do evangelho é divulgado, mas
agora, como resultado desse chamado atual de Deus, existe uma terceira entidade
– “a Igreja de Deus” (1 Co 10:32).
Portanto, nesta presente dispensação da graça, Deus está chamando judeus e
gentios crentes para fora de suas
posições anteriores e levando-os para
dentro de algo novo – a Igreja. Como afirmado anteriormente, o significado
da palavra Igreja é “os chamados para
fora”. Expressa muito apropriadamente esse chamado especial do evangelho
hoje.
Os teólogos da “reforma” ou da “aliança” usarão erroneamente certos
versículos no livro de Atos para provar que esses dois chamados são um e o
mesmo. Mas um exame mais atento a essas referências mostra que esses chamados não
são um cumprimento daquelas passagens do Velho Testamento, mas são simplesmente
citadas para mostrar que Deus sempre teve em mente Seu propósito de abençoar os
gentios.
·
Em segundo
lugar, Efésios 3:6 diz que os crentes dentre os gentios hoje fazem parte “de um mesmo corpo” de crentes
compostos pelos que antes eram judeus e os que antes eram gentios. O Mistério
de Cristo e a Igreja revela que judeus e gentios que creram no evangelho são tornados
em um organismo vivo (um mesmo corpo) e compartilham uma igualdade de condição
e bênção nessa nova criação de Deus (Ef 2:14-16). Esse “um só corpo em Cristo” (Rm 12:5) é uma coisa totalmente nova da
criação de Deus e não é encontrada no Velho Testamento. As Escrituras do Velho
Testamento não falam de judeus e gentios crentes compartilhando bênção e
privilégio comuns como ajuntados na união mais próxima possível. Além disso, a
Escritura anuncia que Cristo reinará sobre Israel e sobre as nações gentias (Sl
93:1; Is 32:1), mas nunca diz que Ele reinará sobre a Igreja, que é Seu corpo.
·
Terceiro,
Paulo diz que esta seleta companhia de judeus e gentios são “co-participantes da promessa em Cristo
Jesus”. Essa promessa não tem conexão com as promessas feitas aos
patriarcas nos tempos do Velho Testamento. As promessas feitas a Abraão, Isaque
e Jacó foram feitas durante suas vidas, mas essa promessa da “vida eterna” foi feita “antes dos tempos dos séculos” (Tt
1:2). “Vida eterna” é claramente uma
bênção do Novo Testamento que envolve um relacionamento consciente com o Pai e
o Filho (Jo 17:3) e tendo a habitação do Espírito Santo (Jo 4:14). Os santos do
Velho Testamento não sabiam do relacionamento do Pai e do Filho na divindade, e
apenas esperavam viver para sempre na Terra sob um Messias que viria para reinar
(Sl 8:1-9, etc.), nem tinham a habitação do Espírito. A vida eterna foi vista
pela primeira vez quando Cristo veio ao mundo e a manifestou; antes disso, “estava com o Pai” no céu (1 Jo 1:2).
Portanto, vemos dessas três coisas que o presente chamado de Deus não
é um cumprimento espiritual das profecias do Velho Testamento (como os teólogos
da Aliança nos dirão), mas algo completamente diferente. O presente chamado
celestial de forma alguma interfere no plano futuro de Deus de abençoar Israel
e os gentios na Terra sob o reinado de Cristo. A conversão dos gentios ocorrerá
num dia vindouro, mas uma conversão daqueles que são tomados de entre os gentios está acontecendo
hoje pelo chamado do evangelho. Ao ler as Escrituras, é importante não
confundir esses distintos chamados de Deus. O “obreiro” fiel “que maneja
bem [que divide corretamente –
KJV] a palavra da verdade” e fará
essa distinção no ensino bíblico (2 Tim. 2:15).
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